sábado, 3 de janeiro de 2015

A Lua e o Olho

Antigamente, quando ainda não haviam inventado os postes de luz, nem mesmo os a gás, as noites eram iluminadas apenas pela luz da lua. Exatamente nessa época, pais contavam a seus filhos o que lhes havia sido passado a respeito dela: é sabido que aparecia todas as noites não por acaso, ela servia remotamente como uma proteção ao povo.
A história a respeito da Lua surgiu há muito, mas muito tempo mesmo. Na época em que os pais ainda contavam histórias a seus filhos antes de dormir; em que as pessoas sentavam à mesa nas refeições e costumavam conversar, sem aquela coisa de televisão e internet. No tempo em que os ladrões saíam à noite e assaltavam as casas, no silêncio; em que bem e mal conviviam juntos e, se você não tomasse cuidado, poderia se tornar qualquer um deles - bastava só dar um encontrão no escuro.
Órion, filho dos céus e deus da guerra, era muito formoso e se destacava por seus olhos brancos como o leite puro.
No tempo em que os dias ainda duravam mais de vinte e quatro horas, Órion desceu à Terra e se apaixonou - uma pena ter sido justamente pela filha do homem mais machão e invencível do mundo mortal. Uma batalha de doze anos foi travada, entre os seres celestes e os homens mais bravos e guerreiros de todo o planeta (pelo menos da aldeia onde o deus da guerra havia descido). Por fim, num dos últimos golpes deferidos pelo homem mais machão e invencível do mundo mortal para cima do filho dos céus, a enorme e fugaz espada atingiu um de seus olhos, fazendo com que este saísse e se derramasse ao chão. Não podendo enxergar corretamente, acabou levando outro golpe de espada no peito e sua alma de deus foi ascendida.
O céu se entristeceu, de repente tudo escureceu. No mesmo instante em que Órion se foi, a guerra parou, os seres celestes sumiram e os homens foram tomados de um sentimento de dor e paz repentino. A única coisa que restara como vestígio da tal guerra havia sido o Olho de Órion. O deus do céu, vendo que a única coisa que restara de seu filho havia sido o olho - mais precisamente o direito -, resolveu recolhê-lo do chão e o transformou num vestígio celeste, tão brilhante como os próprios olhos do filho quando vivo terrenamente. Em meio a escuridão que tomara a aldeia inteira, o deus do céu colocou o Olho de Órion juntamente com as estrelas, iluminando o mundo inteiro. Cada vez que ficasse escuro, o Olho chegaria e traria luz àquilo que não se podia ver.
No entanto, por passar tanto tempo iluminando em grande parte os humanos, o Olho acabou pegando o temperamento dos homens, decidindo iluminar às coisas vez ou outra, apenas. Contudo, quando o Olho aparecia inteiro, as noites eram tranquilas, as pessoas dormiam bem, não havia assaltos e os vergonhosos dormiam escondidos. E quando o Olho aparecia em partes, ou nem mesmo resolvia aparecer, as noites eram mais difíceis, assaltos aconteciam, as ruas ficavam mais agitadas, os covardes saíam de suas casas para fazer tudo aquilo que era ruim - afinal, ninguém veria nada naquele escuro, não?
Desde então, os homens passaram a acreditar que dias bons vinham somente quando a Lua (ou o Olho) estava cheia.

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