Como se escolhe um livro bom? Como se sabe que ele é, de fato, bom? Existem livros bons?
Nunca se escolhe um livro bom - ele escolhe você. Seja na prateleira da biblioteca, da banca de jornal, até mesmo na vitrine da livraria ou de um sebo. Ele te chama. Você bate o olho e é como se seus olhares se encontrassem e ele dissesse: "Ok, você me viu, agora me leve para casa, vamos!"
Livro bom é aquele que faz esquecer do mundo à sua volta, do trem cheio de pessoas reclamonas e mau humoradas, do evento chato da família, do programa passando sozinho na televisão, do silêncio chato do quarto. Que faz esquecer do tempo em que está para entrar no tempo em que ele é.
Livro bom é aquele que, aos poucos, vai pegando partes do seu coração e ao mesmo tempo vai dando partes dele pra sua vida não ficar tão incompleta assim... Pra quando você olhar pra uma situação cotidiana, lembrar dele e do que ele te ensinou. Pra quando você olhar pro mundo de novo (quando acabar de lê-lo), o veja de forma diferente.
É estranho pensar, mas livros bons têm vida. De verdade - e nos dão um pouco dela (também nos fazem perder grande parte social dessa vida para lê-los).
Há quem acredite que não se pode dormir com livros debaixo do travesseiro, não porque sejam duros, mas porque à noite eles sussurram, invadem nossos sonhos e acrescentam um pouco deles em nós.
Não é mentira.
Mas livros bons, de verdade, nos fazem perder o sono, seja pra varar a noite os lendo, seja pra passar a madrugada inteira olhando pro teto, pensando no vazio que o final deles nos deixou. Pensar no mundo que acabou de voltar, nos personagens que se foram e ficar remoendo o clímax, com uma pontada no estômago e uma dorzinha no coração, pensando em cada acontecimento como se fosse o flash back de um filme assistido, ou de vários dias vividos.
Livros bons são como paixões da adolescência: você bate o olho e se apaixona, fica junto. Cada momento é como se fosse único... e quando acaba, a primeira sensação que se tem é de que alguém levou parte do seu coração embora, da forma mais dolorida possível. Mas não demora muito, logo vem outro, preenche eu coração de novo e cada capítulo é como um encontro na pracinha num domingo à tarde.
Daí começa tudo de novo.
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