Tinha uns dez anos quando ganhei aquele coelho. Era macho, um amigo da família que deu pra gente porque disse que estava muito violento dentro de um apartamento, talvez num quintal ele ficasse "mais calmo". Seu nome era Toy.
No começo amei a ideia de ter um coelho (ainda mais porque era a primeira vez que estava tendo um), achava ele a coisa mais fofa do mundo - mesmo não sendo mais um filhote. Queria dar banho, comida, brincar com ele e tudo o mais.
O problema foi que, com o tempo, o quintal de casa já não era o suficiente pra ele gastar todas as suas energias. Acabou que, dentro de algumas semanas ele passou de um coelho fofíssimo coisica lindica pra coelho assassino. Não podia nenhum ser do sexo feminino sair por uma das portas de casa que o bicho já saía correndo atrás a fim de dar dentadas. Minha irmã ficou um bom tempo sem brincar no quintal e minha mãe não ia estender roupa sem a companhia do meu pai. Não sabia até quando iríamos aguentar um bichinho daqueles em casa.
Um sábado, porém, minha mãe estava ao pé da minha cama:
- Seu tio Léo veio aqui agora há pouco...
- Sério? Nossa, que legal! - Eu gostava daquele tio.
- É... Então. - Pensei "Lá vem" - Você sabe que o Toy estava dando muito trabalho... e já não tinha mais jeito... - Eu só escutava. - Por isso seu tio veio hoje. Ele matou o Toy. - Ela terminou com uma expressão triste mas aliviada porque poderíamos sair pela porta de casa novamente.
Depois fiquei sabendo que meu tio preparou e temperou o bicho pra comer mais tarde (sinceramente, fiquei horrorizada), colocou na geladeira, na casa de uma tia minha.
Acontece que ninguém sabia da história do coelho no dia em que ele foi morto. A empregada da casa achou uma "carne branca" dentro da geladeira e resolveu fazer pro almoço. O povo chegou morto de fome, comeu aquela carne e repetiu, disse que estava muito gostoso mas aquele frango estava meio diferente.
No final da tarde, meu tio chegou, perguntando onde estava o coelho que deixara na geladeira.
- AAAAAAH, ENTÃO ERA UM COELHO???!! - A empregada se manifestou.
- COELHO??? - Todos se espantaram de súbito.
- COMERAM O MEU COELHO?????!!!!
Minha prima engasgou enquanto os outros riam por terem confundido o coelho com um frango. Demorou pra eu voltar a gostar de frango e pra olhar pra um coelho do mesmo jeito...
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
The Perks of Being Mariana Vol. VIII - É tu, né, Iara?
Houve uma época em que era febre ouvir pela internet os trotes por telefone que as pessoas recebiam. Um dos mais conhecidos era o do "É tu, né, Iara?" (depois vocês procuram nas internetes), inclusive a minha família conhecia e até brincava quando ligava pra alguém pelo telefone, dizendo a frase chave do trote - principalmente eu com a minha mãe.
Tínhamos acabado de chegar de viagem na casa do meu tio quando minha tia sugeriu que eu e minha irmã ligássemos para minha mãe, avisando que chegamos. Foi o que eu fiz. Peguei o celular e disquei o número dela.
- Alô?
- É TU, NÉ IARA?
- Oi?
- Mãe, sou eu!
- Eu quem?
- Mãe, a Mari, sua filha...
- Eu não tenho filha, você ligou errado.
- Ah, sim, desculpa. - Disse com voz desanimada, desligando o telefone. Tentei novamente.
- Alô?
- É TU, NÉ, IARA?
- Oi?
- Mãe, sou eu, a Mari, sua filha!
- Desculpa mas você ligou errado.
- Ah, sim, desculpa. - Novamente desliguei, pensando se havia discado o número errado ou se minha mãe que estava me passando um trote. Liguei pela última vez, um tanto quanto desanimada.
- É TU, NÉ IARA?
- MAS DE NOVO ESTÃO ME LIGANDO?!
- Mãe, para de brincadeira, mãe! É a Mari, a sua filha! Para de brincar, é sério!! Para de brincadeira, é a sua filha, mãe...! A MARI!
A mulher que estava do outro lado da linha percebeu meu desespero, então acabou falando:
- Meu bem... Eu não sou a sua mãe. Você ligou errado, aqui quem fala é a Carol. - Dizendo pausadamente o "Carol". - Eu não sou a sua mãe. - Disse novamente, depois desligou o telefone.
- Ah, sim, desculpa. - Disse ao vazio no telefone.
Tínhamos acabado de chegar de viagem na casa do meu tio quando minha tia sugeriu que eu e minha irmã ligássemos para minha mãe, avisando que chegamos. Foi o que eu fiz. Peguei o celular e disquei o número dela.
- Alô?
- É TU, NÉ IARA?
- Oi?
- Mãe, sou eu!
- Eu quem?
- Mãe, a Mari, sua filha...
- Eu não tenho filha, você ligou errado.
- Ah, sim, desculpa. - Disse com voz desanimada, desligando o telefone. Tentei novamente.
- Alô?
- É TU, NÉ, IARA?
- Oi?
- Mãe, sou eu, a Mari, sua filha!
- Desculpa mas você ligou errado.
- Ah, sim, desculpa. - Novamente desliguei, pensando se havia discado o número errado ou se minha mãe que estava me passando um trote. Liguei pela última vez, um tanto quanto desanimada.
- É TU, NÉ IARA?
- MAS DE NOVO ESTÃO ME LIGANDO?!
- Mãe, para de brincadeira, mãe! É a Mari, a sua filha! Para de brincar, é sério!! Para de brincadeira, é a sua filha, mãe...! A MARI!
A mulher que estava do outro lado da linha percebeu meu desespero, então acabou falando:
- Meu bem... Eu não sou a sua mãe. Você ligou errado, aqui quem fala é a Carol. - Dizendo pausadamente o "Carol". - Eu não sou a sua mãe. - Disse novamente, depois desligou o telefone.
- Ah, sim, desculpa. - Disse ao vazio no telefone.
Livros
Como se escolhe um livro bom? Como se sabe que ele é, de fato, bom? Existem livros bons?
Nunca se escolhe um livro bom - ele escolhe você. Seja na prateleira da biblioteca, da banca de jornal, até mesmo na vitrine da livraria ou de um sebo. Ele te chama. Você bate o olho e é como se seus olhares se encontrassem e ele dissesse: "Ok, você me viu, agora me leve para casa, vamos!"
Livro bom é aquele que faz esquecer do mundo à sua volta, do trem cheio de pessoas reclamonas e mau humoradas, do evento chato da família, do programa passando sozinho na televisão, do silêncio chato do quarto. Que faz esquecer do tempo em que está para entrar no tempo em que ele é.
Livro bom é aquele que, aos poucos, vai pegando partes do seu coração e ao mesmo tempo vai dando partes dele pra sua vida não ficar tão incompleta assim... Pra quando você olhar pra uma situação cotidiana, lembrar dele e do que ele te ensinou. Pra quando você olhar pro mundo de novo (quando acabar de lê-lo), o veja de forma diferente.
É estranho pensar, mas livros bons têm vida. De verdade - e nos dão um pouco dela (também nos fazem perder grande parte social dessa vida para lê-los).
Há quem acredite que não se pode dormir com livros debaixo do travesseiro, não porque sejam duros, mas porque à noite eles sussurram, invadem nossos sonhos e acrescentam um pouco deles em nós.
Não é mentira.
Mas livros bons, de verdade, nos fazem perder o sono, seja pra varar a noite os lendo, seja pra passar a madrugada inteira olhando pro teto, pensando no vazio que o final deles nos deixou. Pensar no mundo que acabou de voltar, nos personagens que se foram e ficar remoendo o clímax, com uma pontada no estômago e uma dorzinha no coração, pensando em cada acontecimento como se fosse o flash back de um filme assistido, ou de vários dias vividos.
Livros bons são como paixões da adolescência: você bate o olho e se apaixona, fica junto. Cada momento é como se fosse único... e quando acaba, a primeira sensação que se tem é de que alguém levou parte do seu coração embora, da forma mais dolorida possível. Mas não demora muito, logo vem outro, preenche eu coração de novo e cada capítulo é como um encontro na pracinha num domingo à tarde.
Daí começa tudo de novo.
Nunca se escolhe um livro bom - ele escolhe você. Seja na prateleira da biblioteca, da banca de jornal, até mesmo na vitrine da livraria ou de um sebo. Ele te chama. Você bate o olho e é como se seus olhares se encontrassem e ele dissesse: "Ok, você me viu, agora me leve para casa, vamos!"
Livro bom é aquele que faz esquecer do mundo à sua volta, do trem cheio de pessoas reclamonas e mau humoradas, do evento chato da família, do programa passando sozinho na televisão, do silêncio chato do quarto. Que faz esquecer do tempo em que está para entrar no tempo em que ele é.
Livro bom é aquele que, aos poucos, vai pegando partes do seu coração e ao mesmo tempo vai dando partes dele pra sua vida não ficar tão incompleta assim... Pra quando você olhar pra uma situação cotidiana, lembrar dele e do que ele te ensinou. Pra quando você olhar pro mundo de novo (quando acabar de lê-lo), o veja de forma diferente.
É estranho pensar, mas livros bons têm vida. De verdade - e nos dão um pouco dela (também nos fazem perder grande parte social dessa vida para lê-los).
Há quem acredite que não se pode dormir com livros debaixo do travesseiro, não porque sejam duros, mas porque à noite eles sussurram, invadem nossos sonhos e acrescentam um pouco deles em nós.
Não é mentira.
Mas livros bons, de verdade, nos fazem perder o sono, seja pra varar a noite os lendo, seja pra passar a madrugada inteira olhando pro teto, pensando no vazio que o final deles nos deixou. Pensar no mundo que acabou de voltar, nos personagens que se foram e ficar remoendo o clímax, com uma pontada no estômago e uma dorzinha no coração, pensando em cada acontecimento como se fosse o flash back de um filme assistido, ou de vários dias vividos.
Livros bons são como paixões da adolescência: você bate o olho e se apaixona, fica junto. Cada momento é como se fosse único... e quando acaba, a primeira sensação que se tem é de que alguém levou parte do seu coração embora, da forma mais dolorida possível. Mas não demora muito, logo vem outro, preenche eu coração de novo e cada capítulo é como um encontro na pracinha num domingo à tarde.
Daí começa tudo de novo.
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